Ninguém cria um negócio pensando que ele vai dar errado.
Quando as pessoas idealizam um novo produto digital, imaginam o potencial que ele tem de ser um sucesso. Elas encontram uma oportunidade inexplorada, pesquisam o tamanho do mercado endereçável, calculam qual é o número realista de possíveis clientes para os primeiros anos e em cima disso montam um plano de negócios. Tudo isso é feito com base em hipóteses que podem ou não se tornar realidade, mas que são necessárias para esse primeiro estudo sobre viabilidade. Até aí tudo certo, afinal antes de começar a materializar um produto, é imprescindível ter a certeza de que existe um embasamento de negócio que justifica sua construção.
O problema começa quando o próximo passo dado é idealizar o produto e a tecnologia inferindo que as hipóteses do plano de negócio já são verdades validadas. Principalmente quando o próximo é sair desenhando tela e escrevendo código, ao invés de ir a campo para ver se realmente existe demanda pelo que se quer construir.
Quando isso acontece, a tendência é tentar criar uma primeira versão do produto já projetando esse sucesso teorizado. Isso normalmente gera um roadmap de desenvolvimento grande — afinal um produto com milhares de usuários precisa ser robusto — que por consequência custa caro e demora a ser desenvolvido.Tudo isso para no lançamento não atingir os objetivos esperados, deixando todos envolvidos frustrados e se perguntando onde foi que erraram.
Onde erraram foi assumir que tinham todas as respostas. Foi acreditar que por existir uma apresentação de slides com uma boa argumentação e uma planilha com números que pareciam fazer sentido, podiam inferir que as hipóteses que usaram nesse planejamento eram verdadeiras. Erraram em acreditar que o que faltava era só construir a tecnologia e tudo daria certo.
O problema é que tecnologia nenhuma resolve um negócio que não tem respostas validadas para perguntas como:
- Realmente existe uma dor latente que precisa ser resolvida?
- Nós entendemos o suficiente sobre a dor para construir uma solução?
- Quais são as possíveis soluções?
- Os usuários estão dispostos a pagar por alguma delas?
- Temos um diferencial claro em relação aos concorrentes diretos e indiretos?
E mais do que isso: muitas dessas perguntas nem precisam do desenvolvimento de software para serem respondidas.
Nas fases iniciais da construção de um novo produto, onde ainda existem muitas incertezas, o objetivo deveria ser reduzir ao mínimo o esforço com tecnologia. Desenvolver software é lento e caro comparado a outras formas que podem ser usadas para validação, como por exemplo prototipação somado a entrevistas com usuários. E provavelmente ao realizar essas primeiras conversas você já perceba que nem todas suas hipóteses estavam corretas, conseguindo corrigir a rota com velocidade e pouco custo.
Essas conversas com usuários e outras pessoas do seu mercado ajudam a mitigar muitos riscos antes mesmo de precisar escrever qualquer linha de código.
A partir delas é possível entender com profundidade qual a dor a ser resolvida e o que os usuários realmente valorizam. Isso ajuda a gerar perspectiva na hora de priorizar o que será construído, focando somente no que gera mais valor para o usuário e/ou o que é imprescindível para a validação das hipóteses mais importantes para o crescimento do negócio.
Isso porque construir qualquer funcionalidade dispensável nessa fase inicial é perda de tempo e atrasa ainda mais o lançamento de uma primeira versão da aplicação, onde será possível medir com maior assertividade qual foi a reação dos usuários ao produto lançado.
Focando em primeiramente ter validações com usuários e depois construir somente o essencial para uma primeira versão, muitos riscos são mitigados para esse lançamento. E mesmo que inicialmente a solução não atinja um rápido sucesso, a bagagem de aprendizado será grande o suficiente para entender quais hipóteses não se provaram verdadeiras e como corrigir a rota a partir disso. Isso facilita seguir em um processo de evolução contínua movido a feedbacks, que é o que eventualmente fará com que o produto atinja os resultados projetados no plano de negócio ou seja descontinuado porque realmente não para de pé como negócio.
No fim do dia, o mais importante é entender que a tecnologia é uma ferramenta usada para gerar escala em um negócio, não o negócio em si. Usada da forma errada, ela pode inclusive atrapalhar a empresa em suas fases iniciais. O foco deve ser em construir um negócio com bases sólidas e validadas, e conforme essa certeza for surgindo construir a tecnologia de forma incremental.