Tão importante quanto saber o que fazer, é saber o que não fazer. Essa é uma reflexão que sempre faço em momentos de planejamento estratégico, como o que estamos vivendo neste momento na nave.rs. Todo trimestre, paramos para analisar nosso avanço no planejamento estratégico anual e, assim, definir nossos objetivos para os próximos três meses. Por mais que os planos sejam inúteis, é importante passarmos pelo processo de planejamento, analisando todos os focos que podemos ter e, a partir disso, decidir tanto o que é mais importante de ser executado quanto o que não devemos priorizar, para que o segundo não atrapalhe o primeiro. É meu papel como líder conduzir esse processo, definindo primeiramente o objetivo que vamos perseguir como empresa e depois alinhar todas as áreas e pessoas a partir dele.
Na nave, chegar às prioridades do trimestre torna-se algo especialmente difícil porque a cultura da empresa valoriza a busca pela melhoria contínua, fazendo com que todas as lideranças estejam sempre buscando identificar como podem agir melhor, gerando uma lista imensa de possíveis ações. Porém, conforme fui agindo sob essa cultura e buscando pontos de melhoria, ficou nítido para mim que nem tudo que pode ser feito, deve ser feito.
E entre essas possibilidades de ação, com certeza existem algumas que são mais importantes e urgentes que outras. Além disso, dentre as ações urgentes e importantes, existem algumas que vão gerar um resultado e um impacto na organização muito maior que outras. E por fim, é importante levar em conta o fato de que o meu tempo para a execução é escasso e finito.
No meu dia a dia já existe uma série de rotinas e responsabilidades que vou precisar manter enquanto persigo a execução de novos objetivos, então preciso dimensionar minhas prioridades para o tempo restante. Mesmo sabendo disso, é normal que eu seja otimista demais em relação ao meu tempo, acreditando que conseguirei fazer muito mais do que realmente será possível. Isso acontece principalmente porque no início da execução de um projeto tudo ainda é muito incerto e indefinido. Mas, como o objetivo é fazer algo bem feito que resolverá o problema de forma profunda, e não somente fazer ações paliativas que vão resolver de forma rasa, isso sempre irá tomar um tempo considerável, mesmo que eu não consiga perceber com antecedência.
Então, sabendo que tenho uma quantidade de tempo limitada e muitas coisas que podem ser feitas, torna-se óbvio que preciso priorizar. E isso foi algo que sempre busquei, porém não conseguia fazer de uma forma efetiva, pois tinha medo de deixar algo importante de fora e acabar me sentindo culpado quando olhasse para trás, e visse que deveria ter escolhido iniciativas diferentes.
Uma grande virada de chave foi quando li um conceito no livro Essencialismo e passei a encarar o processo de priorização pela seguinte ótica: para ganhar é necessário perder. Pensando por esse ponto de vista, encarei que não adiantava tentar buscar o plano perfeito, pois cada escolha que eu fizesse me traria algo positivo, mas também me traria algo negativo. Com certeza eu deixaria coisas importantes de fora, mas seria para conseguir dar foco para algo que eu entendesse como realmente primordial.
Isso me trouxe a concepção de que, como líder, meu objetivo é, além de maximizar os ganhos do meu time, também lidar com as perdas que vamos ter. Nem sempre será possível minimizá-las, porque para sermos muito bons em algo, vamos precisar ignorar completamente uma série de outras coisas em que sabemos que poderíamos ser melhores. Afinal, na minha visão, para que seja possível se destacar, é melhor ser excepcional em uma coisa e ruim em várias outras, do que ser mediano em todas.
Quando passei a encarar o processo de priorização dessa forma, entendi que não adiantava perseguir diversos objetivos de forma rasa e superficial, mas sim definir poucas iniciativas e gerar avanços significativos dentro delas, buscando a excelência. Entendi que meu papel como líder no processo de planejamento é guiar a organização, mantendo o foco na busca por sermos o melhor que conseguirmos onde nos propusemos a ser excelentes. E, por mais que surjam muitas oportunidades de melhoria, manter todos focados onde realmente precisamos evoluir. Afinal, quem tenta ser tudo para todo mundo acaba sendo nada para ninguém.