Ao começar a desenvolver uma nova iniciativa, muitas vezes fico paralisado. Isso vale para qualquer coisa realmente nova que eu esteja tentando fazer, desde desenvolver um hábito, criar um processo dentro da empresa ou até criar um novo negócio. Isso acontece porque desde o início começo a idealizar o resultado final, pensando em quão bom quero que ele seja. Isso me faz ver a distância de onde estou hoje para aonde quero chegar, me gerando uma série de dúvidas de forma antecipada, dificultando até mesmo definir por onde vou começar.

Para enfrentar essa insegurança e paralisia inicial, uso os conceitos apresentados no livro A Startup Enxuta do Eric Ries e começo a “executar pequeno”. Aprendi com esse livro a buscar o aprendizado incremental validado, ou seja, quebrar problemas grandes e complexos em pequenas hipóteses que precisam ser validadas. A partir dessas hipóteses, o objetivo é construir pequenas iterações que me ajudarão a entender se estou indo no caminho certo. Os experimentos são sempre desenhados em um formato em que se ocorrerem erros eles sempre  te gerararão algum aprendizado e não terão impacto suficiente para te tirar do jogo. Assim, é possível criar um ambiente seguro para testar e receber feedbacks rápidos, gerando aprendizado com os erros e acertos.

Vivenciei recentemente na nave.rs uma situação em que consegui colocar esse pensamento em prática. Como estamos em constante crescimento, percebemos que existem conceitos da nossa metodologia de trabalho que precisavam ser reforçados para o time. Chegamos a hipótese que a melhor forma de atingir esse objetivo seria através de um treinamento coletivo síncrono para uma das áreas da empresa. O objetivo era montar uma formação bem estruturada, em um formato de curso com uma boa fundamentação teórica e que pudesse ser replicado para outras áreas posteriormente. Eu fiquei responsável pela montagem dessa formação, o problema é que até então eu nunca tinha construído nada nesse formato.

Como qualquer desafio novo, fiquei empolgado, porém inseguro. Muito porque eu também não sabia se tínhamos escolhido o melhor formato para garantir que nosso objetivo fosse alcançado. Meu foco não era simplesmente montar uma formação, mas sim que os envolvidos aprendessem as bases do nosso método de trabalho e aplicassem no seu dia a dia.

Além disso, eu não queria investir diversas horas para montar e aplicar essa formação para só no final saber se ela realmente tinha atingido o objetivo desejado. Dessa forma, seguindo o pensamento da Startup Enxuta, decidi começar por um pequeno experimento.

Expliquei para a área que seria treinada que estávamos montando uma formação e que na próxima semana teríamos a “Aula 0”. Essa aula seria um encontro de introdução à formação, onde eu explicaria conceitos gerais que iriam percorrer todo o treinamento. Para preparar esse pequeno experimento, ao invés de planejar e definir os tópicos que seriam abordados nas 10 aulas que queríamos desenvolver, eu decidi investir somente o tempo necessário para chegar ao conteúdo dessa aula 0.

Além do conteúdo necessário, me preparei para validar alguns pontos que me ajudariam a entender se aquele realmente era o melhor método para chegarmos no nosso objetivo. Queria entender três pontos principais: se o pessoal iria participar ativamente, se uma hora seria tempo suficiente para ter uma introdução teórica e depois discussões conectando a prática com a teoria e se as pessoas iam aplicar os conceitos aprendidos naquela aula no seu dia a dia. Com essas dúvidas em mente e com o objetivo de começar pequeno, investi três horas ao total nesse pequeno experimento: duas horas para preparar e uma hora para ministrar.

A aula foi muito bem sucedida. Consegui fazer uma introdução técnica com alguns conceitos, seguida de um espaço de discussão. O time participou ativamente, tirando dúvidas e compartilhando experiências, sempre conectando com o material técnico que eu tinha trazido no início da aula. No final, coletei feedbacks com os participantes e todos destacaram que tinham gostado muito do formato e do conteúdo, reforçando que para eles a parte que mais agregava valor eram as discussões coletivas e as trocas que acontecerem durante o encontro. O mais impressionante foi que, já na semana seguinte, consegui observar o time aplicando no dia a dia os conhecimentos que haviam sido discutidos.

Assim, consegui cumprir um ciclo inteiro de validação proposto pelo livro A Startup Enxuta. Identifiquei uma hipótese central que eu queria validar (”encontros síncronos vão atingir o objetivo de treinar as pessoas nas bases do nosso método de trabalho?”) construí um pequeno experimento para colocar à prova essa teoria e ao final consegui validar minha hipótese. E além dessa validação, consegui gerar uma série de outros aprendizados que guiaram meus próximos passos na construção da formação, como por exemplo não deixar com que a parte teórica tomasse tempo demais dos encontros, pois o que era mais valorizado pelos participantes eram as discussões coletivas.

Com um investimento pequeno de três horas consegui sanar minha principal dúvida e pude avançar na construção da formação com esse aprendizado validado, não precisando mais ter esse ponto de preocupação. Dentro de um ambiente com um pensamento menos enxuto, provavelmente eu teria planejado toda a formação e preparado todo o material antes de começar a execução da primeira aula. Teria um curso inteiro montado sem que nada fosse validado pelas pessoas que seriam impactadas. Isso faria com que dezenas de horas fossem utilizadas para que só no final fosse possível entender se o objetivo realmente seria atingido, sem chance de corrigir a rota no meio do caminho. Sem ter esses pequenos aprendizados validados na aula zero, dificilmente o curso atingiria meu objetivo, pois extraí informações essenciais nessa fase de validação, como a importância dos momentos de discussão.

Por isso, sempre busco começar pequeno, construir experimentos e realizar avanços validados. Além de economizar horas valiosas de trabalho, a cada pequeno passo que dou, vou construindo a confiança de que estou fazendo algo que realmente está entregando valor.

Sonhe grande, comece pequeno