O mundo está mudando e com isso a nossa forma de trabalho também precisa mudar. Faz muito tempo que ouço essa frase e sempre me questionei o que exatamente deveria fazer em relação a isso. Não que eu não concorde com ela, consigo ver a cada dia um mundo mais acelerado e conectado. A internet e a globalização quebraram muitas barreiras, hoje é muito mais fácil criar um negócio que pode disruptar um segmento inteiro.
Por isso, fica cada vez mais nítido que as empresas precisam saber se adaptar às mudanças rápidas que acontecem, porém tinha dificuldade de entender como deveríamos lidar com isso na nav9. O fato é que eu não tinha parado para perceber que tanto a minha trajetória profissional quanto a construção da própria nav9 foi desenvolvida em um ambiente que já entende muito bem essa necessidade de adaptação às mudanças, que é o desenvolvimento de software ágil.
Dentro do universo do desenvolvimento de software, essa necessidade de adaptação não é uma novidade. Desde antes dos anos 2000 os desenvolvedores já haviam percebido que o seu jeito de trabalhar precisava se adaptar. Essa necessidade de adaptação nasceu porque os desenvolvedores inicialmente eram ensinados a programar olhando para um processo que deveria ter a mesma precisão das áreas de engenharia, onde se busca a precisão e a previsibilidade extrema. Porém, com o passar do tempo, ao entender que a construção de sistemas é algo pouco previsível, não linear e complexo, chegou-se a conclusão que o desenvolvimento está muito mais para um trabalho artístico do que para um trabalho propriamente de engenharia.
Além das complexidades inerentes ao processo de desenvolvimento de software, ainda existem as complexidades do mercado. Afinal, se um software nasce para resolver uma demanda de um negócio e os negócios estão precisando cada vez mais de flexibilidade, é esperado que o processo de desenvolvimento de software siga o mesmo caminho.
E foi assim que surgiu o movimento de desenvolvimento de software ágil. Diversos desenvolvedores perceberam que o jeito que eles estavam trabalhando não era o ideal e começaram a testar novas práticas no dia a dia. Saiam de cena os planejamentos robustos e engessados, que geravam documentações extensas, cronogramas rígidos e uma entrega de valor para o cliente final somente depois de tudo estar pronto, fazendo o cliente esperar muitas vezes 6 meses a 1 ano para ver software funcionando e descobrir que não era bem isso que ele ou o mercado esperavam. E entrava em cena uma nova forma de pensar. Focada em ciclos de iteração curtos e frequentes, com uma documentação mínima para garantir que todos entendiam o que precisaria ser feito, resultando em entregas pequenas e incrementais, com validações rápidas por parte do cliente, podendo corrigir a rota do desenvolvimento a cada uma ou duas semanas.
Criava-se assim uma maneira de trabalhar que estava preparada para lidar com um mundo em constante mudança, porém sem deixar de se adaptar e seguir atingindo bons resultados. Esse movimento tem como um dos seus principais marcos a construção do Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software, que explica a filosofia por trás do pensamento ágil.
Olhando em retrospecto, o fato de me desenvolver profissionalmente dentro de um ambiente que utilizava essa filosofia de trabalho me fez estar preparado para encarar o universo empresarial de forma adaptativa. E como empresa, por termos nossas bases profundamente enraizadas no ágil, não restringimos a utilização dos princípios do manifesto ágil somente aos nossos times de desenvolvimento de produtos, utilizamos em todos os setores da empresa, desde o comercial, passando pelo financeiro e até na área de recursos humanos.
Conseguimos adaptar os pensamentos e diretrizes do manifesto ágil para que cada pessoa em seu dia a dia entendesse como entregar valor de forma constante aos seus clientes, sejam eles internos ou externos. E mais importante do que seguir alguma metodologia ágil específica (scrum, xp, etc.) conseguimos garantir que cada pessoa entenda os conceitos por trás do pensamento ágil e os utilize na sua tomada de decisão no dia a dia.
Em todas nossas áreas, ao invés de fazer planejamentos robustos e complexos, nós fazemos somente o planejamento necessário para começar a desenvolver as atividades. Não nos apegamos a esses planos, definimos pequenos entregáveis incrementais que podem ser validados de forma rápida e mostramos para os clientes internos e externos nossa evolução com frequência, sem esperar que o entregável esteja perfeito. Fazemos cerimônias semanais e diárias para mantermos o alinhamento do time. Se estamos indo para o caminho certo, mantemos o plano. Se não, temos coragem de assumir que erramos e alterar nossa rota. E mais importante: trabalhamos como um time, sem evitar as discussões difíceis, fazendo cerimônias coletivas frequentes para avaliar nosso próprio trabalho e entender o que precisa ser melhorado para conseguirmos entregar mais valor.
Dessa forma, conseguimos ter um time que abraça a incerteza e consegue operar melhor dentro de um ambiente complexo e imprevisível que vivemos. Seguimos entregando valor mesmo que todas as circunstâncias mudem, porque temos uma estrutura pronta para gerar adaptabilidade sempre que necessário. O ágil não é só para o desenvolvimento de software, é para qualquer área ou empresa que esteja aberta a abraçar a incerteza e garantir que a entrega de valor siga acontecendo mesmo que todas as variáveis mudem.