Na construção de produtos digitais utilizando metodologias ágeis é imprescindível ter CORAGEM. Não é atoa que essa palavra é um dos valores do eXtreme Programming.
Quando levamos em consideração que o pensamento ágil para desenvolvimento de software foi construído para facilitar a entrega de valor mesmo em ambientes de alta incerteza, fica nítido que teremos que ter coragem na abordagem dos problemas do nosso dia a dia. Navegaremos em ambientes complexos - nossa empresa e o mercado que estamos inseridos - e isso não pode nos impedir de gerar entregáveis de forma constante.
Para quem participa do squad de desenvolvimento do produto, ter coragem significa principalmente abraçar a incerteza e aprender a lidar com ela.
Muitas vezes precisaremos fornecer estimativas e previsões relacionadas ao futuro do produto. O objetivo não é ceder a um modelo cascata, com prazos rígidos, fases bem definidas e imutáveis. Porém, muitas vezes precisaremos dar visibilidade de quais serão as próximas entregas e quando elas irão acontecer. Isso porque, existe uma empresa inteira que se organiza de acordo com nossas entregas de produto. Existe um setor de marketing que precisa comunicar os lançamentos, um time de vendas que pode tentar novas abordagens a cada entrega de valor, além, é claro, da operação de suporte que precisa se adaptar às mudanças que surgem no produto.
Nesse cenário, é imprescindível gerar ao menos um pouco de previsibilidade, mesmo em um contexto onde não temos todas as respostas.
Isso significa, por exemplo, que no início de um trimestre teremos que apresentar o backlog priorizado, com um roadmap de quais são as entregas previstas para o período. Teremos todas as informações necessárias para chegar nas estimativas? Provavelmente não. Por mais que muitos riscos sejam mitigados no processo de discovery e que idealmente estaremos estimando entregas que já temos uma visão macro de como serão feitas, ainda assim muitas coisas serão descobertas somente no processo de desenvolvimento.
Nosso objetivo nesse cenário não é acertar em cheio cada estimativa, mas sim propor um plano de como abordar a situação com base no que já conhecemos hoje. Propor o que achamos que é factível enquanto mantemos um canal de diálogo aberto com as outras áreas, tanto para consultá-los quando necessário sobre alguma entrega que impacta diretamente eles, quanto para realinhar as expectativas caso algo não saia como esperado dentro do nosso plano.
Ao criar a coragem para gerar previsibilidade para as outras áreas nesse cenário de incerteza, conseguimos trazê-las para perto e explicar o porquê é tão difícil estabelecer com antecedência com 100% de certeza quais serão as datas de release. Explicar que existem muitos aspectos que só iremos descobrir durante o processo de desenvolvimento e que se tentarmos aderir a um modelo cascata isso não irá resolver o problema, mas sim criar muitos outros que já são conhecidos dentro do universo de desenvolvimento de software.
Ao demonstrar coragem e vulnerabilidade, nos aproximamos mais de nossos clientes internos e externos, criando um ambiente de confiança e troca que gera valor para ambas as partes. No fim do dia, todos estão interessados em gerar valor para a empresa, só precisamos achar formas de trabalho e comunicação que funcionem para todos. Ao trazer as partes interessadas para perto e explicar com profundidade como funciona nosso trabalho, conseguimos ser ouvidos em relação às nossas preocupações e problemas ao mesmo tempo que os envolvidos se sentem ouvidos e atendidos por nós.